O tempo da minha adolescência é lento, feito de grandes blocos cinzentos e pequenas saliências verdes ou vermelhas ou roxas. Os blocos não têm horas, dias, meses, anos, e as estações são incertas, faz calor e frio, chove e faz sol. As saliências também não têm um tempo certo, a cor é mais importante do que qualquer datação. De resto, a duração da própria coloração que certas emoções assumem é irrelevante, quem está escrevendo sabe. Assim que você procura as palavras, a lentidão se transforma em um vórtice e as cores se confundem como as de diferentes frutas em um liquidificador. Não apenas ‘o tempo passou’ se torna uma fórmula vazia, mas também “uma tarde”, “uma manhã”, “uma noite” acabam sendo indicações convenientes.” pg. 319
O trecho acima já está num momento avançado do novo romance da Ferrante. Acho que ele não revela muito sobre o enredo do livro em si, mas fala de uma das características dele que mais me chamou a atenção. É um livro narrado em primeira pessoa, por uma mulher mais velha relembrando sua adolescência, seu amadurecimento. Fala sobre a passagem de tempo e de ilusões perdidas (enquanto novas tomam o lugar das antigas).
A vida mentirosa dos adultos
Autora: Elena Ferrante
Tradução: Marcello Lino
Editora Intrínseca
430 pgs
PS – O livro tem data de lançamento oficial em setembro. No mês de junho, ele foi enviado para assinantes do clube de assinatura Intrínsecos.