Em 2007, uma amiga me recomendou um filme chamado Me and You and Everyone We Know da até então desconhecida (para mim) Miranda July. Um enredo simples, mas cheio de significado: um vendedor de sapatos solitário conhece uma excêntrica artista e eles desenvolvem uma relação um tanto diferente. Esse filme ficou na minha cabeça por muito tempo, já o revi algumas vezes e desde então nunca deixei de acompanhar o trabalho de Miranda.
No Brasil foi lançado um livro de contos seu, É claro que você sabe do que estou falando e O escolhido foi você. Este é o resultado das pesquisas feitas por Miranda para a criação de segundo filme, The Future (que é bem bacana, mas não me emocionou tanto quanto Me and You and Everyone We Know). O primeiro homem mau é seu primeiro romance e foi publicado no Brasil em julho de 2015 pela Companhia das Letras.
Quem está familiarizado com o trabalho de Miranda já sabe mais ou menos o que esperar deste livro: esquisitice. E isso não é uma crítica. Ela consegue tratar de temas cotidianos, fazendo analogias um tanto quanto bizarras e juntando diversas situações talvez um pouco polêmicas.
Cheryl Glickman é a narradora do livro. Uma mulher na casa dos 40 anos, solteirona, com um emprego mediano, vivendo sozinha com suas manias. Ela é apaixonada por Phillip, um homem de quase 60 anos que ela acredita ser seu amor de vidas passadas. Ainda dentro de seu mundo de fantasias, há Kubelko Bondy um bebê-entidade que está presente em todas as crianças que ela conhece.
Em meio a tudo isso, ela passa a hospedar em sua casa Clee, filha de seus chefes. Com ela estabelece uma relação delicada que começa com desprezo e aos poucos evolui para um tipo de “jogo adulto”. Ainda temos Rick, um “mendigo” que trabalha (não remunerado) como jardineiro na casa. Para completar a galeria de personagens esquisitos, ainda temos o Dr. Broyard e sua secretária, Ruth-Anne Tibbets.
Todo mundo tem alguma mania ou característica esquisita, algum segredo bizarro que tenta esconder. Miranda July criou seu primeiro romance juntando diversas dessas características e manias. Ela também não nos oferece explicações, não sabemos o porquê de Cheryl aceitar Clee como hóspede ou como pode ser tão normal Rick simplesmente estar ali no jardim. Esse é um dos pontos positivos do romance: essas explicações não são necessárias.
Não é uma leitura convencional. Miranda nos traz um romance sem grandes invenções de estilo, ele segue uma linha narrativa, mas tomado de eventos esquisitos e polêmicos que podem deixar o leitor bastante desconfortável. A meu ver, isso é ótimo e torna Miranda uma escritora única.
Michelle Henriques, 28 anos, louca dos gatos e dos livros. Vive em São Paulo e reclama todos os dias dos preços nos cinemas. Vive de obsessões, a atual é David Foster Wallace. É uma das organizadoras do clube de leitura Bastardas e do clube #leiamulheres
Sinceramente, li apenas um livro da Miranda July e já admiro muito. Vou querer ler este livro pela escolha por vezes inusitada de como as pessoas se conectam. Isto é fascinante!
Linda resenha!
Beijos,
Jéssica d´O Feminino dos Livros (http://ofemininodoslivros.blogspot.com.br/).